À medida que a pandemia da COVID-19 atingia seu pico, pessoas em toda a América Latina e no Sul Global observavam com horror como os países do Norte Global e as empresas farmacêuticas proprietárias das vacinas não as estavam produzindo nas quantidades necessárias para o mundo. Populações inteiras na América Latina e no Sul Global foram empurradas para o fim da fila. Pior ainda, as empresas recusaram pedidos para compartilhar a tecnologia que teria permitido aos países do Sul Global produzir suas próprias vacinas, assegura Winnie Byanyima.
Segundo a mesma fonte o dano mortal causado pela retenção de tecnologia capaz de salvar vidas levou a pelo menos uma morte a cada 24 segundos em 2021. Isto estava longe de ser algo imprevisto. Pelo contrário, era totalmente previsível, na medida em que era uma repetição das injustiças que já havíamos assistido na pandemia da AIDS.
No final da década de 1990 e início dos anos 2000, cerca de 12 milhões de pessoas no Sul Global morreram porque os medicamentos que salvam vidas ao controlar a infecção pelo HIV eram pouco disponíveis ou completamente inacessíveis para elas.
Depois do que as pandemias de AIDS e COVID-19 nos ensinaram, o mundo não pode se dar ao luxo de repetir novamente o mesmo erro. Porém, a menos que as lideranças mudem a forma como os produtos de saúde são produzidos e distribuídos, é isso que acontecerá.
É certo que haverá outras pandemias. Quando exatamente virão, não sabemos, mas podem estar na esquina. E o nosso mundo cada vez mais interconectado fica ainda mais vulnerável a pandemias devido às desigualdades gritantes. Quando se permite que agentes infecciosos proliferem em diferentes partes do mundo, o resultado frequentemente são variantes ainda mais perigosas, que intensificam e prolongam as pandemias, acrescenta Winnie Byanyima.
A Diretora Executiva do UNAIDS afirma ainda que as lideranças globais precisam agir rápido para consertar o sistema profundamente ineficaz e injusto que está por trás do desenvolvimento e implantação de novos medicamentos, vacinas e outras tecnologias de saúde necessárias para combater doenças negligenciadas e as pandemias de hoje e de amanhã.
“Felizmente, o Brasil, como presidente do G20 em 2024, está liderando uma iniciativa para fazer exatamente isso. O governo brasileiro está chamando para a criação de uma aliança que ajudará o mundo a implementar uma maneira melhor e mais justa de desenvolver e produzir tecnologias de saúde, como vacinas e medicamentos”.
“Esta aliança facilitaria o estabelecimento de uma rede diversificada de produtores locais e regionais de tecnologias de saúde para garantir um fornecimento adequado para todas as pessoas, em todos os lugares, rompendo a escassez e a desigualdade que prejudicaram as respostas anteriores às pandemias globais”.
De acordo com a mesma vai viajar a Salvador, Brasil, na primeira semana de junho, na reunião do Grupo de Trabalho sobre Saúde do G20, a fim de apoiar os esforços do presidente Lula para dar início a esse nobre esforço. Como Diretora-Executiva do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), participará de uma reunião dos governos do G20 para discutir a aliança proposta.
A perspectiva das Nações Unidas, reforça é essencial que haja um esforço coordenado para fortalecer a produção farmacêutica local e regional para o mundo vencer a luta contra as pandemias.
A aliança segundo a Winnie Byanyima pode desempenhar um papel fundamental para atingir esse objetivo de forma sustentável, ao mesmo tempo em que apoiaria o estabelecimento da capacidade de desenvolvimento e produção de medicamentos que precisa estar implementada para responder rapidamente às próximas pandemias. Ao garantir a fabricação local em todo o mundo, as lideranças globais podem mitigar os riscos de interrupção, aumentar a segurança da saúde e fortalecer a preparação global para pandemias.
“A escassez e a desigualdade que prejudicaram as respostas à AIDS e à COVID-19 não são inevitáveis. Ao atuar em conjunto, podemos construir a infraestrutura global necessária para acabar com a AIDS como uma ameaça à saúde pública e garantir que o mundo possa vencer a próxima pandemia”. conclui.