
O jornal “Xatiadu Si”, criado em 2005, foi relançado este mês, em formato impresso, totalmente escrito em crioulo, visando a promoção da independência linguística e cultural de Cabo Verde ante o “neocolonialismo” linguístico”.
O jornal de formato tabloide, de oito páginas, que teve sua primeira edição em 2005 e a segunda em 2006, voltou a circular este mês em homenagem ao Centenário de Amílcar Cabral, herói nacional que lutou pela independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau.
Em entrevista à Inforpress, o fundador do jornal, que responde por Djuntamon Afrikanu, explicou que a ideia de criar um jornal em crioulo surgiu em 1995, “quando a liberdade de expressão foi severamente controlada pelo Governo”.
“Naquela altura, havia uma ordem do Governo que dizia que quem quisesse colocar algo na parede precisava pedir permissão ao presidente”, recordou, referindo-se à situação como “uma decisão escrota”, que gerou indignação e revolta no povo cabo-verdiano.
O nome “Xatiadu Si”, explicou, foi escolhido como forma de denúncia e resistência, representando a indignação da população diante das políticas linguísticas e culturais do país.
Afrikanu defendeu que a imprensa cabo-verdiana deveria ser, pelo menos, 90% em crioulo, considerando que “não há boa governação se não for na língua do povo. Não há democracia em Cabo Verde. Crioulo não é a língua oficial, já que a democracia pressupõe respeitar o povo”.
“O povo tem que entender o seu governante”, afirmou, sublinhando que a população é quem paga os governantes para trabalhar para o seu bem-estar.
Afrikanu destacou que o “Xatiadu Si” serve como uma voz para expressar a revolta e a indignação do povo contra o que considera um “neocolonialismo” linguístico e cultural, que persiste até hoje no país.
“O crioulo é a nossa língua de luta. Queremos usar o jornal como uma ferramenta de conscientização e resistência à colonização linguística que ainda existe em Cabo Verde”, afirmou.
A edição aborda questões políticas, sociais, culturais, histórias e poesias, com o objectivo de instigar o pensamento crítico e a reflexão na sociedade e conta com escritos de Apolo de Carvalho, Alexandre Robalo, Danny Spínola, Diltinu Ferreira, José Duarte Varela, Redy Lima, Carlos Maurão e Djuntamon Afrikanu.
O jornal é vendido por 100 escudos, e, devido à falta de financiamento, é o próprio Afrikanu que sai às ruas para vender as edições, já que não possui uma banca oficial de distribuição.
Ele também revelou planos de criar uma versão digital do jornal para alcançar a diáspora cabo-verdiana, aumentando assim o impacto da publicação.
Quanto à periodicidade, o fundador afirmou que ainda não há uma data estipulada para a próxima edição, com a frequência das publicações dependendo de vários factores, como apoio financeiro e o interesse da comunidade.